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O Lixo e o Sonho (Ratcatcher) |
Lynne Ramsay, 1999 |
Roteiro: Lynne Ramsay |
Escócia |
Pathé Distribution |
4 |
Esta semana desembarcamos na Escócia com O Lixo e o Sonho, de Lynne Ramsay. O longa de estreia da diretora de Precisamos Falar Sobre Kevin é sensível e perturbador. O filme se passa em Glasgow, maior cidade da Escócia, na década de 1970. Em um primeiro momento, Ryan Quinn (Thomas McTaggart) aparenta ser o protagonista da história, porém ele se afoga em um canal perto de sua casa e descobrimos então que será James Gillespie (William Eadie), o menino que estava com Quinn quando tudo acontece, que nos guiará neste ambiente.
James vive em um conjunto habitacional onde o lixo se acumula cada vez mais devido à greve dos lixeiros. Os ratos são presença constante entre as brincadeiras das crianças e a vida dos moradores, em geral. Além disso, o protagonista ainda tem que lidar com sua família complicada, os meninos mais velhos valentões e com o fatídico dia em que Quinn se afogou no canal. Em meio à tudo isto, o menino sonha com uma outra vida, com o dia em que ele e a família conseguirão mudar para um lugar melhor.
É importante ressaltar que os brasileiros – geralmente – acreditam que não há pobreza ou famílias disfuncionais nos lugares considerados por nós como “de primeiro mundo”. Salvo as devidas proporções, O Lixo e o Sonho nos mostra que em países como a Escócia também existem famílias que não conseguem pagar o aluguel do pequeno lugar que moram, que o desemprego é uma realidade e que essas pessoas sonham com dias melhores.
O silêncio é uma característica muito forte do longa de Ramsay. Na primeira cena ele está tão presente que chega a incomodar, talvez por não estarmos acostumados. Em outros momentos, ele volta a aparecer e é, ironicamente, ensurdecedor. Outra particularidade do filme são os refúgios de James, especialmente na amiga Margaret Anne (Leanne Mullen) e em uma área de construção perto do campo. A sequência em que o pré-adolescente sai da cidade e descobre este ambiente é de uma delicadeza enorme, sendo uma das mais bonitas de O Lixo e o Sonho.
O nome do longa – tanto o original, quanto no Brasil – são interessantíssimos. Em inglês, Ratcatcher seria algo como “pegador de ratos” (o que o protagonista faz diversas vezes por causa do lixo não recolhido). Em português, o título foi traduzido para O Lixo e o Sonho que demonstra também a situação de James: vivendo no lixo e sempre com esperanças de ir para um lugar melhor.
O filme foi indicado a diversos prêmios europeus e ganhou alguns deles, como o de Melhor Filme no Festival Internacional de Bordeaux de Mulheres no Cinema ou de Melhor Estreia para Lynne Ramsay (diretora e roteirista do longa) no BAFTA. O Lixo e o Sonho é uma obra sensível e dura sobre uma infância difícil guiada por esperança.
Na próxima semana, vamos até a Eslováquia com O Jardim de Martin Sulík! Não perca!
Apaixonada por filmes da Disney, mas assisto de tudo um pouco: musicais, filmes antigos, séries (só não me deixe sozinha assistindo um filme de terror, por favor). Sou estudante de Jornalismo e ainda acredito que a Summer, de (500) Dias Com Ela, não era uma vadia. |